Aqui há tempos falei da paternidade e do efeito metamorfoseante que ela tinha em alguns dos meus amigos, transformando aqueles outrora grandes homens em grandessíssimas bichas. Pois é, descobri um outro factor muito mais eficiente nessa transformação: Assumir a construção ou a remodelação de uma casa. Um homem encarregado de organizar a reforma de um casa é trinta vezes mais difícil de aturar que um homem que assume a paternidade. Um homem que passa por essas duas empresas juntas - obras e paternidade - imagino, deve ser insuportável.
Ora, onde estão os indícios da transformação nestes meus amigos?
Aparecer ao trabalho com uma revista “Casa – Especial Cozinhas” ou “Máxima Interiores” não é uma homossexualidade ainda maior do que transportar uma revista “Maria”, “Novelas” ou “TV sete dias”? Pois é!, entram todos sorridentes escritório adentro, com essas revistas pouco viris debaixo do braço, como se trouxessem ali, sozinhos e de uma vez só, a oitava maravilha do mundo. Alguém encontra alguma satisfação em estar num bar a discutir cortinas e têxteis lar? Eles encontram! Falam de sanitas e das restantes loiças de casa-de-banho com o mesmo entendimento e satisfação com que antigamente falavam daquela coisa redonda na qual ousavam dar uns chutos descomprometidos. Dissertam das cores, das suas suavidades, das texturas, auxiliando-se de uma linguagem gestual que não indicia nada de saudável. Teorizam os preços e a durabilidade dos materiais. Trocam viagens por sofás!, pior!, discutem-lhes as comodidades. Transportam esboços das casas consigo, pior!, obrigam-nos a olhar para os esboços e a opinar sobre a colocação das sanitas e banheiras, dos guarda fatos embutidos, sobre a projecção do jogo das luzes, sobre a assincronia das cortinas. Sentem-se orgulhosos, e fazem disso a maior das empresas, de todas as vezes que conseguem um orçamento mais baixo no mais insignificante dos pinchavelhos. Arranjam esquemas e entram em negócios de contrafacção. Substituem a falsificação da roupa e do calçado pela contrafacção dos mármores, das loiças e dos têxteis lar, e dizem com falso orgulho: “Consegui um conjunto de cozinha igual ao da Vista Alegra, a um décimo do preço... Só não diz Vista Alegre mas é igualzinho!”
Estou farto! Estou farto e o pior é que isso nota-se, pois perdi a pouca vida social que ainda tinha. De um lado estão os pais que sabem que já não aguento mais ver as fotos dos primeiros arrotos dos Zezinhos, do outro estão as Marias-amélias que já nem me falam da forma abichanada com que se passeiam nas lojas à procura do melhor design em panelas e tachos. Estou farto e pronto!